Esta expressão sempre me pareceu estranha até eu aprender a cozinhar e descobrir que se cozinha o galo por muito tempo para tentar deixá-lo macio, já que a carne é dura, fibrosa de difícil digestão. Conhecendo as coisas dos diferentes cantos do Brasil percebi que a cultura do cozinhar em demasia é muito difundida por aí, cozinha-se o alimento tanto que ele fica sem forma, sem gosto e com uma aparência pra lá de esquisita.
Verduras então, nem se fala: cozinham acrescentando água, até quase desmancharem, e aí, claro, quem come aquela coisa diz: - Ah, não gosto de verduras, não têm gosto de nada.
Com a vida acontece a mesma coisa: cozinhamos situações, pensamentos e emoções até perderem o gosto, até ficarem tão sem forma que já nem sabemos se um dia as sentimos realmente. Casamentos cozidos como o galo, coisas que queremos dizer e que ficam entalados na garganta, emoções sorrateiras cozidas no caldeirão do medo e do preconceito, acabam virando um angu de caroço. Quem de nós não viveu situações em que ficou esperando o melhor momento para tomar uma atitude, e a coisa foi tomando tal rumo que acabamos perdendo o controle, acabamos fazendo o que não devíamos, dizendo o que não devia ser dito?
Melhor agir na vida como se estivéssemos cozinhando o camarão, alguns segundos de um lado, alguns segundos de outro com cuidado e atenção porque senão vira borracha, fica duro e intragável.
Prefiro que minha vida fique cheia de camarões tenros do que de galos duros e borrachentos.
Autora: Júlia Rodrix
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