domingo, 31 de março de 2013

A velhinha do casebre


Andando pela estradinha de terra, avistei ao longe um casebre.
Era feio, caído aos pedaços, com aspecto de abandonado...
Mas eu já estava andando durante horas, precisava de um lugar para descansar, relaxar e me alimentar. O caminho de volta para casa era bem longo.
Ao me aproximar, percebi que aquele lugar era habitado. Logo de cara pensei, quem consegue viver em um lugar assim?
Com um certo receio dei duas batidas na porta e aguardei ser atendida.
"- Quem está aí?
 - Boa tarde! Sou uma viajante e preciso descansar um pouco. Achei que encontraria aqui um pouco de água e gostaria de utilizar suas terras para me sentar e relaxar por algumas horas até retornar ao meu destino.
 - Entre!"

Ao abrir a porta me deparei com uma senhora bem idosa, com a pele bem queimada do sol e enrrugada. Ela me sorria um sorriso ausente, me parecia bem sofrida e cansada.
"- Desculpe incomodar! Não quero atrapalhar apenas avisar que estaria por perto.
 - Imagine, minha filha! Não há necessidade de ficar lá fora, se você pode descansar aqui dentro.
 - É que aqui é tão pequenininho e vejo que mal cabe a senhora...
 - Isso é o que você quer ver! Vemos o que nosso coração permite que nossos olhos enxerguem. tenho certeza que você avistou um lugar destruído ao passar pela porteira.
 - Sim senhora!
 - Você viu o oposto do que seu cansaço esperava encontrar. Seria perfeito uma casa com paredes firmes, bem pintadas, vários cômodos, uma mulher jovem e bonita para recepcioná-la. Que oferecesse uma cama com lençóis de puro algodão bem branquinhos, um colchão macio e uma mesa farta com água fresquinha. Mas quem garante que isso aqui não é assim?
 - Mas como poderia ser?
 
 - Pergunte ao seu coração!
 - Não estou entendendo onde quer chegar?
 - Essa pergunta faço a você. Há quanto tempo está andando? Sabe onde quer chegar?"

Nesse momento me peguei pensando no meu destino. Eu sabia que tinha um destino mas não me lembrava qual. Não conseguia recordar de quando comecei a caminhar e para onde iria.
Agora, com um sorriso simpático a senhora me disse:
"- Você está começando a me entender, Querida! Fazemos coisas que nos é imposta, sem ao menos querer e entender o motivo. Feche os olhos, encha o coração de paz e só depois disso, abra os olhos e entenderá tudo o que eu falei."
Exatamente como ela pediu, eu fechei meus olhos...
Ao abrir eu estava em minha cama, deitada em meus lençóis brancos, com as paredes recém pintadas... À minha frente estava meu amor, me acordando com café na cama. Tudo parecia mais belo que o de costume e me lembrei... No fundo dos meus olhos, atrás da cena bonita daquela manhã, estava aquela senhora simpática.
Todas as noites ela me lembra que temos que ver a beleza das coisas.